quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Série Campeões: EL PAÍS DEL FÚTBOL



Quem ainda duvida? Quem ainda questiona?

Os espanhois entraram de vez no rol dos grandes campeões da história (Kai Pfaffenbach/Reuters)

Certo, somos ainda a única seleção pentacampeã do mundo, mas a amarelinha não é mais tão temida como já fora antes. Na verdade, o diminutivo embutido no apelido da nossa farda nunca se encaixou tão perfeitamente. Tão lamentavelmente. Tão... Deprimente.

Antes que o leitor perceba e acredite que estou desviando o assunto do post, justifico a choradeira pós-Londres tentando comparar o visível declínio tupiniquim ao longo dos últimos anos com a consolidação da supremacia de la roja.

Fácil compreender a rasgação de seda. Há dois anos os espanhóis conquistaram a tão sonhada Copa do Mundo. A taça buscada na África lavou a furiosa alma espanhola, a antiga amarelona do mundo do futebol.

Título que só confirmou o que já tínhamos visto na UEFA Euro 2008: o melhor time do mundo é o espanhol.

'Creating history together' (AFP/Getty Images)
Pois então a Euro migrou um pouco mais para o leste, indo parar na Polônia e na Ucrânia. A festa produzida pelas torcidas, sobretudo pelos anfitriões, foi algo inenarrável. Já era esperado um torneio com organização impecável e beleza encantadora, mas as expectativas foram superadas. A UEFA Euro é única: o charme de uma Champions League somado ao nível técnico de uma Copa do Mundo só poderia dar nisso.

Que felicidade é essa, tio?
Imagina se a Irlanda
ganhasse alguma coisa
 (Sportsfile)
A Espanha se classificou de forma tranquila. Na verdade, só uma zebra bem safada poderia tirar sua vaga no Grupo C. Mas a listrada não passeou pela Polônia, para a infelicidade dos fanáticos croatas e dos impressionantes irlandeses. Até mesmo a Itália, sob uma desconfiança do tamanho da tradição da maglia azurra, passou sem sustos em segundo. No duelo entre as duas potências, empate de 1x1 com gols de Di Natale e Cesc Fàbregas.

Alonso contra a França: duas vezes à rede (Getty Images)
Nas quartas-de-final, já em solo ucraniano, a Fúria tinha pelo caminho uma seleção francesa que parecia ter finalmente se acertado, a ponto de fazer frente aos pupilos de Del Bosque. Xabi Alonso, em seu centésimo jogo pela seleção, fez os dois gols da boa vitória espanhola. Dois a zero na França, que voltou para casa com o rabo entre as pernas e muita roupa suja para lavar. Só para sair da rotina.

A semifinal disputada em Donetsk foi emocionante. Portugal foi a seleção que mais pôs à prova a competência de Iniesta e seus colegas. Após um jogo nervoso, com as defesas se portando muito bem, o zero a zero se arrastou até a prorrogação, que teve como destaque o goleiro Rui Patrício, parando Pedro Rodríguez e Jesús Navas.
Não que o jogo tenha sido tão feio assim, mas... (Juan Medina/Reuters)

Nos pênaltis, uma defesa de Rui, outra de Casillas. Com a cobrança de Bruno Alves explodindo no travessão, Fàbregas só teve o trabalho de confirmar a vaga da Espanha à segunda final consecutiva. Cristiano fez o beicinho da revolta, como você pode observar em http://rock.to/ce7.

Antes da final, a Itália parecia ser páreo duro. Surpreendentemente, la squadra del calcio fez uma Euro consistente no ataque e na defesa, com Buffon jogando no seu alto nível habitual, Andrea Pirlo inspirado e Balotelli sendo, enfim, decisivo. Na primeira fase, já tinha empatado com os atuais campeões. Só que...

Como eu dizia, as circunstâncias do-- "Goool, da Espanha!" (Christof Stache/AFP/Getty Images)
Depois que a última contagem regressiva terminou e a bola rolou em Kiev, não restou pedra sobre pedra. A versatilidade dos volantes italianos sucumbiu à marcação pressão de Del Bosque. Pirlo desapareceu. Montolivo foi substituído por Thiago Motta, mas o ítalo-brasileiro teve o azar de se contundir minutos depois, e deixar o técnico Prandelli na mão, com apenas nove na linha. Àquela altura, a Espanha já construíra um seguro 2x0.

O baixinho David Silva, um dos melhores meias do futebol inglês, havia aberto o placar de cabeça. Jordi Alba, jovem lateral-esquerdo contratado pelo Barça, ampliou a vantagem tocando na saída de Buffon, pouco antes do intervalo.

Fernando Torres, o homem-gol do título de 2008, já havia dado sua chamada "volta por cima" durante a última Champions League, mas fez questão de anotar o dele também. Ainda deu tempo de entregar de lambuja o quarto gol para Juan Mata, companheiro de Chelsea, recém-promovido à partida. E o Mata, reserva de luxo, realmente "matou" de vez toda e qualquer dúvida que (ainda) pudesse haver a respeito da capacidade dessa equipe. Quatro a zero na Itália em final de Eurocopa, meu amigo. Quatro.
Não é possível que as-- "Goool, da Espanha!!" (Jeff Pachoud/AFP/Getty Images)
Nem preciso dizer que-- "Goool! É da Espaanha!!" (Getty Images)

As características da base sólida, muito bem entrosada e eficiente, todo o mundo já conhece. O toque de bola – ora cadenciado, ora com triangulações rápidas – tem envolvido praticamente todas as seleções enfrentadas, expressivas ou não. A hegemonia da seleção da Espanha no cenário do futebol já dura cerca de cinco anos, sendo confundida muitas vezes com a que o Barcelona impôs entre os clubes, recentemente (a maior parte dos titulares joga junto no time catalão). Somado às estrelas do Real Madrid, como Sergio Ramos, Xabi Alonso e o capitão Casillas, a equipe já figura entre as melhores seleções de futebol de todos os tempos.
A galera estava animada em Madri (Getty Images)
Que futebol vistoso, o das crias espanholas; benzadeus

Não é difícil ver jovens brasileiros torcendo pelos ídolos espanhóis, até mais do que pela seleção da CBF. Esse é o quadro atual, devido mais ao mérito daqueles atletas espetaculares do que do fracasso dos nossos popstars de verde e amarelo. Estes se mostram ainda verdes. Estes se mostram cada vez mais amarelos.