domingo, 29 de julho de 2012

Série Campeões: QUEM É O FAVORITO AQUI?


Sobe a ópera!

Nova abertura oficial em avant-première

A temporada 2011/2012 da UEFA Champions League – competição tão fantástica que nos faz arrepiar ouvindo música clássica – foi mais emocionante do que qualquer um poderia prever. Reviravoltas, prorrogações, decisões por pênaltis. Nas transmissões de alta definição vimos defesas monstruosas, lances cinematográficos e golaços para todos os gostos.

Falando em previsão, quem quis dar uma de vidente e apostou no imaginado ‘duelo do século’ entre Barcelona e Real Madrid caiu do cavalo. Nas semifinais, ambos sucumbiram à garra de Chelsea e Bayern de Munique, respectivamente.

O Bayern tinha então a chance de ser pentacampeão da Europa dentro de casa, já que a Allianz Arena havia sido nomeada como a sede da final. Mas o time de Didier Drogba calou os alemães e venceu pela primeira vez o torneio mais importante do planeta.

O título era absolutamente improvável, mas o Chelsea provou que podia e foi campeão absoluto

[Pfaffenbach-Reuters]

Campanha

Valencia e Bayer Leverkusen, apesar da tradição ainda ostentada, foram coadjuvantes e só conseguiram arrancar pontos do Chelsea dentro dos próprios domínios, na fase de grupos. Mesmo assim, o técnico português André Villas-Boas sempre foi contestado por mídia e torcida, desde que chegou ao Stamford Bridge como o técnico mais caro da história (investimento de € 15 milhões). O suposto mau relacionamento dele com os ‘medalhões’ do time prejudicava o ambiente, e as vitórias não eram convincentes.

O bicho pegou mesmo foi no mata-mata. Nas oitavas, os Blues tiveram que encarar o melhor time do Nápoli desde Careca e Maradona. A torcida napolitana, uma das mais fanáticas da Europa, fez do tradicional San Paolo um caldeirão. Contagiado por essa energia, o time italiano abriu 3 a 1 no jogo de ida. A derrota custou o cargo de Villas-Boas, que foi substituído pelo assistente Roberto Di Matteo.
O Nápoli, do uruguaio Cavani, soube aproveitar o fator casa
 [Getty Images]
Substituição em Nápoles: sai Villas-Boas, entra Di Matteo
 [Getty Images]
A troca do treinador foi o momento chave na competição. Di Matteo, ídolo da torcida do Chelsea pela sua passagem no fim dos anos 90, mostrou identificação maior com os atletas e ajudou os londrinos a passarem pela pedreira que foi o Nápoli: o placar foi devolvido em casa e o golpe de misericórdia dado na prorrogação, fechando em 4 a 1 com Ivanovic.

Nas quartas de final, o Estádio da Luz foi o primeiro a se calar: duas vitórias azuis sobre o Benfica. A sequência de partidas foi mostrando um Chelsea mais seguro lá atrás e letal nos contra-ataques puxados por Drogba e Ramires. O italiano pegou um time antes desacreditado e colocou-o na final da Copa da Inglaterra jogando redondinho. David Luiz se firmou como grande zagueiro garantindo a titularidade; Raul Meirelles passou de coadjuvante a peça-chave no grupo; Juan Mata, um dos líderes de assistências na liga inglesa, articulou as principais jogadas; e o Ramires cresceu demais, jogando bem avançado pela direita e também sendo crucial na fase decisiva.
O Abramovich também acreditou no espanhol, e muitoo.ooo.ooo,oo
 [Getty Images]


Até o Fernando Torres, que estava numa zica tão monstruosa quanto o valor de sua transferência (dezenas de milhões de euros para dezenas de jogos sem marcar gol), recuperou seus momentos de glória, quando chegou a hora da verdade.

E a verdade tinha nome, adjetivo e complemento: Barcelona, favorito e melhor time do mundo.

Vamos abrir um parêntese para falar sobre favas contadas. Era inegável que dez em cada dez pessoas tinham, no mínimo, a curiosidade de ver o duelo entre Real e Barça na final. A possibilidade de isso acontecer gerou tanta expectativa que o Bayern de Munique, detentor de quatro Champions, foi taxado previamente como zebra frente ao time de Mourinho e Cristiano Ronaldo. Mas dentro de campo, o que se viu foi uma batalha épica de 180 minutos onde tudo poderia acontecer. E aconteceu quase de tudo, inclusive o Real Madrid caindo de joelhos no Santiago Bernabéu, ao perder nos pênaltis a vaga para a final. Sabe aquela história, de que dentro das quatro linhas são 11 conta 11 e blá blá blá? Pois é.
Mas o Barcelona não ia engolir o Chelsea?
 [Getty Images]
A torcida inglesa, que não é das mais contagiantes do mundo, viu que era a hora de dar o seu máximo das arquibancadas. Mas na maior parte do tempo, todas as unhas foram roídas enquanto o Barcelona martelava de todas as formas. As preces foram atendidas: Petr Cech teve mais uma atuação de DVD, e a plástica de suas defesas era ainda mais admirável nos replays em slowmotion.

Messi foi bem marcado, mas como ele ainda sempre consegue aprontar algum tumulto com a bola colada aos pés, Ashley Cole teve de ser providencial em dois lances na pequena área.

Goleirão estava inspirado e com sorte: duas bolas na trave. Teve gol? Teve sim, senhor! Drogba, sempre ele. Mantida a vitória simples, garantida a vitória maiúscula.

No jogo de volta, mais do mesmo, só que com um pouco mais. Mais genialidade dos catalães, mais gols, mais uma expulsão pra coleção do Terry, mais Cech, mais drama... Só que também tinha mais Ramires (golaço por cobertura) e mais bola no travessão (Messi de pênalti).
Cartão vermelho para o John Terry? Ah vá!
 [Getty Images]
O placar de 2x1 já eliminava o Barcelona, que mesmo vencendo perdia no quesito gols fora de casa. Pois então o Camp Nou conheceu o fenômeno cujo poder de destruição fora esquecido com o tempo. El Niño Torres aproveitou-se do desespero do Barça que se lançou todo à frente e, absolutamente sozinho, cortou metade do campo com a bola nos pés. Em seu disparo, o clima de “já ganhou” dos times espanhóis acabava de cair por terra, gradativamente, a cada passo largo do centroavante. No encontro com Valdés, 2 a 2.
Torres fechou o caixão blaugrana no Camp Nou abarrotado.
A zica acabou em boa hora.
 [Getty Images]
Final

Sair da adversidade não estava sendo problema para o Chelsea até ali. Então que tal encarar o Bayern em Munique, após os bávaros terem despachado simplesmente o Real Madrid?


Ambos os times chegaram à final com seríssimos desfalques (Terry, Ramires, Ivanovic, Luiz Gustavo), para descabelar os técnicos durante os dias que precediam a partida. Melhor para Di Matteo, careca por antecipação.

O time do Bayern era muito bom. Em questão de qualidade técnica, talvez só ficasse atrás dos gigantes caídos nas semifinais, e não por muito. Mas na hora do “vamos ver”, Robben ratificou sua fama de amarelão, perdendo gols feitos – um deles de pênalti.
Petr Cech sendo... Petr Cech
[Pfaffenbach-Reuters]
Do lado azul da força, Drogba foi do céu ao inferno em poucos minutos, para ascender novamente e ter seu nome imortalizado entre os maiores. Já explico: o marfinense empatou o jogo de cabeça aos 43 do segundo tempo e cometeu um pênalti em Ribéry no início da prorrogação. Mas como Petr Cech agarrou o penal, coube a Drogba fazer o gol do inédito título europeu do Chelsea no desempate final.
Difícil destacar um só nome desse time.
Ainda mais difícil não lembrar-se de Drogba.
[Wolfgang Rattay-Reuters]
A caminhada até o topo não foi nada fácil, mas o mundo só notou a presença e a força do Chelsea após eles desbancarem o todo-poderoso Barcelona, aceitando que eram inferiores e se dedicarem exclusivamente ao contra-ataque. Então se instaurou de vez a discussão sobre futebol arte versus futebol de resultado.

Nunca é demais jogar bonito, encantar o torcedor com esquemas ultra-ofensivos, tabelas magníficas e toques de efeito. Mas a mesmice não é excitante, e o futebol também precisa de emoção, doação, viradas históricas e (por que não?) de voltar a ser a velha e apaixonante caixinha de surpresas.
Aos 34 anos, o mito foi para a China fazer o seu pé-de-meia
[Agence France Press]
Roman Abramovich, o magnata, já está buscando no mercado as peças de reposição necessárias para manter o time entre os mais competitivos do mundo. Apesar da saída do ídolo Drogba, os brasileiros Oscar e Hulk serão incorporados ao grupo logo após os Jogos Olímpicos. Em dezembro, buscará o título do Mundial de Clubes da FIFA, campeonato onde também estarão também o mexicano Monterrey, o australiano Auckland e o brasileiro Corinthians, campeão da última Libertadores.

Falando em campeão, semana que vem a série continua, falando mais um pouco de quem deu o que falar en el mundo del fútbol.








domingo, 22 de julho de 2012

Série Campeões: A TRINCA CENTENÁRIA

Se no Brasileirão o Santos anda capengando (10 pontos em 11 rodadas), há exatos 70 dias o Capitão América levantava a taça do tricampeonato paulista no Morumbi. Era a abertura perfeita para o ano do centenário de um dos clubes mais vitoriosos do mundo.

O peixe foi campeão paulista com sobras em 2012. (Fotos: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)

A imprensa exaltou o feito do time, que igualou a sequência de títulos estaduais conseguida apenas nos anos 60, com Pelé e companhia ilimitada. Na final de 2012, o Guarani não fez frente ao ímpeto dos praianos, que golearam nos dois jogos realizados na capital (3x0 e 4x2).


Campanha

Depois do fatídico jogo com o Barcelona, o Santos fez a pré-temporada pensando em voltar a Yokohama na edição seguinte do Mundial. Por isso, a prioridade do semestre era mesmo a Libertadores, e o Paulistão seria deixado em segundo plano.

O curioso é que a campanha do Peixe no estadual só emplacou com o início da própria Libertadores. Se teve algum trabalho nos clássicos (derrotas para Palmeiras e São Paulo), o melhor ataque do Paulistão (58 gols) não passou por grandes sustos na primeira fase, e acumulou goleadas das mais convincentes. Na última rodada, o pobre Grêmio Catanduvense desceu à baixada para assistir a uma verdadeira aula de futebol, ministrada por Neymar e Paulo Henrique Ganso.

Semifinal: 100 vezes Neymar
Nas partidas de quartas e semifinal, o Santos reencontrou-se com dois dos quatro algozes da primeira fase: Mogi Mirim e São Paulo, respectivamente.

Contra o Mogi, vitória segura com direito a gol de Maranhão e carretilha de Neymar, que também anotou o dele nos 2x0 da Vila. Uma semana depois, teve hat-trick do camisa 11 no Morumbi com mais de 40 mil pessoas. Mais um show do craque, que pela 100ª vez em sua carreira fez o santista soltar o grito de gol.


Final

A vila famosa não foi palco da decisão, por determinação da FPF, detentora dos mandos de campo. Mas o Brinco de Ouro também ficou de fora. Eles por eles: ida e volta no Cícero Pompeu de Toledo.

O Bugre era a sensação entre os times do interior: passou em 4º lugar na primeira fase. Contava com o velho Domingos em boa forma, a experiência de Fumagalli na articulação e nas bolas paradas, além de um ataque veloz, com Fabinho e Bruno Mendes, uma das revelações do campeonato. No mata-mata, já havia despachado o Palmeiras e passara ileso também por um histórico derby campineiro.

Ganso & Neymar : 5 títulos em 3 anos de Santos. 
Mas a decisão do título não teve rodeios nem mistério. No primeiro jogo, Ganso foi o regente da orquestra. Seu gol acompanhou mais dois de Neymar no placar final. As faixas de campeão já estavam a caminho.

No jogo de volta, pelo ligeiro descompromisso dos times com o placar, tivemos muitos gols. O primeiro deles, de Alan Kardec, saiu logo no segundo minuto de jogo. Aos 16 avistava-se 2x2 no placar, com um gol saindo a cada quatro minutos.

Na segunda etapa, o Santos jogou com o relógio a favor. Mas os 50 mil santistas no Morumbi queriam a vitória, que veio com mais um gol de Neymar, mais um de gol Alan Kardec... Mais um título para o Santos.

E o Morumbi virou mar branco.

Desde 2010, o primeiro grito de campeão de se ouve em São Paulo é sempre o do Santos Futebol Clube. Depois do tricampeonato paulista, o time vendeu bem caro a derrota para o Corinthians na semi continental. É uma pena que a base que Muricy tinha em mãos no primeiro semestre (Rafael, Maranhão, Dracena, Durval, Juan, Adriano, Arouca, Ibson, Ganso, Neymar e Alan Kardec, além de Elano, Borges, Léo e Fucile) tenha se esfacelado. Saídas de algumas peças (negociações, convocações) e lesões de várias outras vêm atrapalhando o rendimento do time na última competição do ano 100.


Ciclo vicioso. Aliás, vitorioso.

A classificação no nacional não deverá ser das mais decepcionantes, com o retorno dos selecionáveis, lesionados e a incorporação dos reforços. Independente disso, o santista sempre teve e terá muito do que se orgulhar. Já dá para contar para os netos como jogava bola essa Geração Neymar. E a multiplicação dos peixes parece não ter fim, pois aos poucos está subindo ao time principal uma meninada boa de bola, para variar. Felipe Anderson (19 anos) e Victor Andrade (16!) já figuram entre os relacionados há um tempo, e o recém-contratado Pato Rodríguez (22) traz boas expectativas da Argentina.

Não tem como fugir: esse futebol moleque, atrevido e encantador está no DNA do Santos, como gosta de dizer o Laor. Quando um novo grupo de Meninos da Vila resolve brincar com a bola, se diverte fazendo a lição de casa e, de quebra, acaba ganhando presente, fazendo questão de exibir para todo mundo ver.

O artilheiro isolado da competição, com 20 gols, grudado à taça.
Permanência até 2014?

Compilado com os 58 gols do Santos no Paulistão 2012.
Alto índice de golaços por minuto.