Sobe
a ópera!
Nova abertura oficial em
avant-première
A
temporada 2011/2012 da UEFA Champions League – competição tão fantástica que
nos faz arrepiar ouvindo música clássica – foi mais emocionante do que qualquer
um poderia prever. Reviravoltas, prorrogações, decisões por pênaltis. Nas
transmissões de alta definição vimos defesas monstruosas, lances
cinematográficos e golaços para todos os gostos.
Falando
em previsão, quem quis dar uma de vidente e apostou no imaginado ‘duelo do
século’ entre Barcelona e Real Madrid caiu do cavalo. Nas semifinais, ambos
sucumbiram à garra de Chelsea e Bayern de Munique, respectivamente.
O
Bayern tinha então a chance de ser pentacampeão da Europa dentro de casa, já
que a Allianz Arena havia sido nomeada como a sede da final. Mas o time de Didier
Drogba calou os alemães e venceu pela primeira vez o torneio mais importante do
planeta.
O título era
absolutamente improvável, mas o Chelsea provou que podia e foi campeão absoluto
[Pfaffenbach-Reuters]
|
Campanha
Valencia e Bayer Leverkusen, apesar da tradição ainda ostentada, foram coadjuvantes e só conseguiram arrancar pontos do Chelsea dentro dos próprios domínios, na fase de grupos. Mesmo assim, o técnico português André Villas-Boas sempre foi contestado por mídia e torcida, desde que chegou ao Stamford Bridge como o técnico mais caro da história (investimento de € 15 milhões). O suposto mau relacionamento dele com os ‘medalhões’ do time prejudicava o ambiente, e as vitórias não eram convincentes.
O bicho pegou mesmo foi no mata-mata. Nas oitavas, os Blues tiveram que encarar o melhor time do Nápoli desde Careca e Maradona. A torcida napolitana, uma das mais fanáticas da Europa, fez do tradicional San Paolo um caldeirão. Contagiado por essa energia, o time italiano abriu 3 a 1 no jogo de ida. A derrota custou o cargo de Villas-Boas, que foi substituído pelo assistente Roberto Di Matteo.
O Nápoli, do uruguaio
Cavani, soube aproveitar o fator casa
[Getty Images] |
Substituição em Nápoles:
sai Villas-Boas, entra Di Matteo
[Getty Images]
|
A
troca do treinador foi o momento chave na competição. Di Matteo, ídolo da
torcida do Chelsea pela sua passagem no fim dos anos 90, mostrou identificação maior
com os atletas e ajudou os londrinos a passarem pela pedreira que foi o Nápoli:
o placar foi devolvido em casa e o golpe de misericórdia dado na prorrogação,
fechando em 4 a 1 com Ivanovic.
Nas
quartas de final, o Estádio da Luz foi o primeiro a se calar: duas vitórias azuis
sobre o Benfica. A sequência de partidas foi mostrando um Chelsea mais seguro
lá atrás e letal nos contra-ataques puxados por Drogba e Ramires. O italiano
pegou um time antes desacreditado e colocou-o na final da Copa da Inglaterra
jogando redondinho. David Luiz se firmou como grande zagueiro garantindo a
titularidade; Raul Meirelles passou de coadjuvante a peça-chave no grupo; Juan Mata,
um dos líderes de assistências na liga inglesa, articulou as principais jogadas;
e o Ramires cresceu demais, jogando bem avançado pela direita e também sendo crucial
na fase decisiva.
O Abramovich também
acreditou no espanhol, e muitoo.ooo.ooo,oo
[Getty Images]
|
Até
o Fernando Torres, que estava numa zica tão monstruosa quanto o valor de sua
transferência (dezenas de milhões de euros para dezenas de jogos sem marcar gol),
recuperou seus momentos de glória, quando chegou a hora da verdade.
E
a verdade tinha nome, adjetivo e complemento: Barcelona, favorito e melhor time
do mundo.
Vamos
abrir um parêntese para falar sobre favas contadas. Era inegável que dez em
cada dez pessoas tinham, no mínimo, a curiosidade de ver o duelo entre Real e Barça
na final. A possibilidade de isso acontecer gerou tanta expectativa que o Bayern
de Munique, detentor de quatro Champions, foi taxado previamente como zebra
frente ao time de Mourinho e Cristiano Ronaldo. Mas dentro de campo, o que se
viu foi uma batalha épica de 180 minutos onde tudo poderia acontecer. E aconteceu
quase de tudo, inclusive o Real Madrid caindo de joelhos no Santiago Bernabéu,
ao perder nos pênaltis a vaga para a final. Sabe aquela história, de que dentro
das quatro linhas são 11 conta 11 e blá blá blá? Pois é.
Mas o Barcelona não ia
engolir o Chelsea?
[Getty Images]
|
A
torcida inglesa, que não é das mais contagiantes do mundo, viu que era a hora
de dar o seu máximo das arquibancadas. Mas na maior parte do tempo, todas as
unhas foram roídas enquanto o Barcelona martelava de todas as formas. As preces
foram atendidas: Petr Cech teve mais uma atuação de DVD, e a plástica de suas
defesas era ainda mais admirável nos replays em slowmotion.
Messi
foi bem marcado, mas como ele ainda sempre consegue aprontar algum tumulto com
a bola colada aos pés, Ashley Cole teve de ser providencial em dois lances na
pequena área.
Goleirão
estava inspirado e com sorte: duas bolas na trave. Teve gol? Teve sim, senhor! Drogba,
sempre ele. Mantida a vitória simples, garantida a vitória maiúscula.
No
jogo de volta, mais do mesmo, só que com um pouco mais. Mais genialidade dos
catalães, mais gols, mais uma expulsão pra coleção do Terry, mais Cech, mais
drama... Só que também tinha mais Ramires (golaço por cobertura) e mais bola no
travessão (Messi de pênalti).
Cartão vermelho para o
John Terry? Ah vá!
[Getty Images] |
O
placar de 2x1 já eliminava o Barcelona, que mesmo vencendo perdia no quesito gols fora de casa. Pois então o Camp Nou conheceu o fenômeno cujo poder de
destruição fora esquecido com o tempo. El Niño Torres aproveitou-se do
desespero do Barça que se lançou todo à frente e, absolutamente sozinho, cortou
metade do campo com a bola nos pés. Em seu disparo, o clima de “já ganhou” dos times
espanhóis acabava de cair por terra, gradativamente, a cada passo largo do
centroavante. No encontro com Valdés, 2 a 2.
Torres fechou o caixão
blaugrana no Camp Nou abarrotado.
A zica acabou em boa
hora.
[Getty Images] |
Final
Sair
da adversidade não estava sendo problema para o Chelsea até ali. Então que tal
encarar o Bayern em Munique, após os bávaros terem despachado simplesmente o
Real Madrid?
Ambos
os times chegaram à final com seríssimos desfalques (Terry, Ramires, Ivanovic, Luiz Gustavo), para descabelar os
técnicos durante os dias que precediam a partida. Melhor para Di Matteo, careca
por antecipação.
O
time do Bayern era muito bom. Em questão de qualidade técnica, talvez só
ficasse atrás dos gigantes caídos nas semifinais, e não por muito. Mas na hora
do “vamos ver”, Robben ratificou sua fama de amarelão, perdendo gols feitos –
um deles de pênalti.
Petr Cech sendo... Petr Cech
[Pfaffenbach-Reuters]
|
Do
lado azul da força, Drogba foi do céu ao inferno em poucos minutos, para
ascender novamente e ter seu nome imortalizado entre os maiores. Já explico: o
marfinense empatou o jogo de cabeça aos 43 do segundo tempo e cometeu um
pênalti em Ribéry no início da prorrogação. Mas como Petr Cech agarrou o penal,
coube a Drogba fazer o gol do inédito título europeu do Chelsea no desempate
final.
Difícil destacar um só nome desse time.
Ainda mais difícil não lembrar-se de Drogba.
[Wolfgang Rattay-Reuters]
|
A
caminhada até o topo não foi nada fácil, mas o mundo só notou a presença e a
força do Chelsea após eles desbancarem o todo-poderoso Barcelona, aceitando que
eram inferiores e se dedicarem exclusivamente ao contra-ataque. Então se
instaurou de vez a discussão sobre futebol arte versus futebol de resultado.
Nunca
é demais jogar bonito, encantar o torcedor com esquemas ultra-ofensivos, tabelas
magníficas e toques de efeito. Mas a mesmice não é excitante, e o futebol
também precisa de emoção, doação, viradas históricas e (por que não?) de voltar
a ser a velha e apaixonante caixinha de surpresas.
Aos 34 anos, o mito foi para a China fazer o seu pé-de-meia
[Agence France Press]
|
Roman
Abramovich, o magnata, já está buscando no mercado as peças de reposição
necessárias para manter o time entre os mais competitivos do mundo. Apesar da
saída do ídolo Drogba, os brasileiros Oscar e Hulk serão incorporados ao grupo logo
após os Jogos Olímpicos. Em dezembro, buscará o título do Mundial de Clubes da
FIFA, campeonato onde também estarão também o mexicano Monterrey, o australiano
Auckland e o brasileiro Corinthians, campeão da última Libertadores.
Falando
em campeão, semana que vem a série continua, falando mais um pouco de quem deu
o que falar en el mundo del fútbol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário